sábado, 20 de dezembro de 2008

Próxima vírgula

Não sou mais a mesma.
Não sou mais aquela valsa repetitiva.
De notas passivas, de passos incertos.
Sou um só sorriso vivendo confusão,
Sou só saudade perdida dentro do peito,
e uma loucura só que não se esconde.
Sou só uma vida,
indecisa, imprecisa, inquieta.

Passou e eu nem vi.
Tão fugaz, tão sutil, tão disperso.
Foi o Vento.
Ventado.
Inusitado.
Soprando em desalento, a paz
e despedaçando meus modos de sentir.
Ah, cata-Vento!
Ventando idéias e balanços
Levando minha fertilidade para campos abertos
Adubando outros sorrisos
Germinando descasos
Ah, Vento levado,
Faminto, desesperado.
Bagunçando meus cabelos
Desmoronando bêbado em outras saias e perfumes.

Não paro.

Não sou mais a mesma janela,
De olhos quadrados pro mundo.
Não sou mais a mesma vitrine,
Tão transparente e nua.
Não sou mais a mesma vista,
Vestida de mentiras até o pescoço.
Não há mais aquele romance irônico,
Lotado de beijos cínicos e olhares latentes
Há somente o desabrochar fatídico das flores do teu jardim.
Aquelas mesmas flores
Que se esbaldam em cor.
E eu, Vento,
Jardineirando-as todas para ir embora de mãos vazias.
Vazia de esperança
Transbordada em lembranças.
Mas há ainda o suplício
Precipício.
Fundo e largo,
Como a ferida em meu peito.
Há borboletas a voar.
Borboletas no meu estomago.
Meu estomago no pé.
E o coração:
O atalho.
Eita caminho apertado!
Há...
Meu leito imenso sem teu lençol.
Minha caligrafia incerta no teu papel.

Não paro.

É! Vento,
Quanta elegância em se retirar.
Quanta discrepância a procriar.
Quanta sede de mar.
Quanta vontade de ondar.
Esse vai e vem de teus amores
Ah, mar!
Tanta imensidão e mistério.
Quanta contradição.
Quanta solidão.

Não paro.

Enquanto você promete e cala.
Enquanto rasga minha pele e vira de lado.
O mundo me despista de você
E eu insisto em seguir teus rastros e detetivar teu cheiro por ai.

Não paro.

E os desencontros!
Vêm denovo,
Ao encontro da minha poesia veloz.
A gente espera um disparo
Mas foge quando a serenata desarma
Com os pés lotados de medo,
Fugindo, alérgico ao sofrimento.
Ah esse medo de pertencer!

Não sinto.

O mundo te chama agora,
Pra gostar de outros gostos.
Pra trancar esse alvoroço.
E abraçar outros abraços.
O mundo pede por você,
Rejeitando minha métrica
Me pedindo calma.
Nem que eu entregue minha alma

Não paro.

De caso em caso,
Me amarro.
Me desato.
Me contrato.

Não paro.

É o contra-senso
O contra ataque,
Descontroles
Que me tecem
Apetecem...
Mas não paro.

Nem que a sinfonia destoe
Nem que o drama acabe
Nem que o amor me amarre.

Não paro.

Nem que o horizonte me desencontre
Nem que o fim se adiante.
Nem que eu peque por sentir demais.
Nem que me retirem a fala
Eu ainda tenho a pena, que nasce no ninho
e desenha, e escreve,
Passarinho.
É amor.
Ainda tenho a semente pra plantar no teu coração
Minha invenção de amar.
E mesmo que apedrejes meu assobiar
Posso colher plumérias e girassóis.
Pra seguir tua luz.

Não paro.

A minha vida vai ao avesso,
No tropeço
De cada ida. Sem vinda.
Vida.
Que não pára.
Mas repara,
é ao contrário.
É o caminho cego, sem nexo.
Com tanto luar e sexo.
E no fim das contas são apenas lembranças.
Repousadas, tingidas, manchadas.

Não paro.

Nem que a oração acabe em palavrão
Nem que o perdão seja em alto calão.
Nem que o destino seja sem limites
E a vida recuse meus convites.

Não paro.

Você assopra, eu respondo.
É o amor. No instante já.
Até a próxima vírgula.

NAMASTÊ

sábado, 13 de dezembro de 2008

Boca Sórdida

[e o problema todo reside em segurar a boca;
amordaçar o beijo que me escapa,
conter as palavras que regurgitam dor,
unir os lábios rachados para que nao acusem o delito.
Existir assim, tão nua e transparente, afeta minha paz e minha conduta.
Redizer aquelas falas densas no teu ouvido enfatiza a minha fraqueza inumana.
A boca morre anestesiada e muda pela frase envenenada que condena.
E eu morro a cada passo que te convenço e silencio.]