sexta-feira, 28 de maio de 2010

Escute, Zé-Ninguém

Por que não falar sobre o meu sofrimento psíquico, denunciando a fragilidade, as contradições e, muitas vezes, a falência do sistema educacional? Deve ser tomado aqui, como expressão de um conflito vivido por mim, situações que denunciam um mal-estar mais profundo e abrangente. Representante do saber, a universidade veste a carapaça e se auto-rotula como espaço de construção objetiva, ordem, estudo, progresso, aprendizagem e liberdade. Porém, no dia a dia, sofremos constantes opressões de professores fascistas, massacres intelectivos, excesso de carga horária e limitações quanto a novas possibilidades dentro e fora do perímetro acadêmico. Mas o problema é que o mal-estar, o conflito, a desordem e o desequilíbrio são negados pela instituição, tratados sempre como movimentos invisíveis. Estamos tão institucionalizados que é difícil manifestar nossa revolta, gritar nosso desespero, reivindicar nosso direito à preguiça, nossas necessidades intimas, nosso não-querer-ser o Zé-Ninguém de Reich.


Costuma dizer o filósofo: “O estudo é a chave do mundo”! Ah é? Se for nestas condições, quero permanecer trancada no meu mundo colorido, onde eu corro com os pés no chão, tenho noites de sono bem dormidas, almoço devagar e com dignidade, vejo meus amigos, vou ao cinema, escolho minha leitura, crio, planto, pinto, amo, voou. A universidade tem me acentuado a desesperança e o vazio. Minha voz não é escutada, minha dor, despercebida. E a saúde? Oferecer vacinas contra H1N1? Não! Muito obrigada. Saúde pra mim é outra coisa. Harmonia, equilíbrio, meditação, tranquilidade. Entrar no mar, tomar sol, pedalar e comer bem me garantem vitamina D suficiente para manter um sistema imunológico sadio, sem a necessidade de injetar doença pra proteger-me. Eu quero espaço, corredores, janelas. Eu quero o sol batendo no rosto. Salas arejadas, discussões em rodas, avaliações flexíveis. Pensar em integração multidisciplinar na minha profissão? Como? Se os exemplos que tenho hoje são de professores que comportam-se egoisticamente, cobrando provas, trabalhos, resenhas e chamadas como se sua aula fosse a única, a mais importante, a essencialmente PERFEITA.


É imprescindível atentar para o lugar do desejo dos alunos e em que medida os saberes produzidos e as relações tecidas mediadas por esse desejo constituem fonte de prazer e/ou desprazer. É preciso problematizar o papel da Universidade e dos esvaziamentos de suas promessas de felicidade e sucesso a partir da conquista do diploma. Acima de tudo, porém, é preciso que as relações no espaço acadêmico sejam de construção de sentido que humanizem e sirvam de alimento para o pensamento e não de inanição.



NAMASTÊ

2 comentários:

Babi Vieira disse...

Nem precisei de horas para explicar o meu lance com a facul, mas certamente ainda teremos horas para conversa sobre isso!!!

; )

Fabi Araujo disse...

Cá!
Que saudades de voce!!
Fazia tempo que não lia seus textos.
Me apaixonei por esse último post, principalmente por ter lido o "Zé-Ninguém" a pouquissimo tempo! Sábias e expressivas palavras, amei, amei!

Um beijo,

Fabi Araujo