No filme "O fabuloso Destino de Amélie Poulain", há uma cena em que o telefone toca e quando o personagem Dominique Brotodeau entra na cabine telefônica, ele pára de tocar. Brotodeau encontra sua caixa de tesouros da infância colocada ali, propositalmente, pela protagonista Amélie Poulain. Emocionado, sente que a vida está chamando por ele. A metáfora da cabine telefônica que toca, toca , chamando-o para uma nova visão dos fatos que compõe a sua história, através da nostalgia de reviver passado, muda a perspectiva do personagem, que repensa a própria trajetória e decide mudar suas atitudes antes que seja tarde demais.
Hoje, algo parecido me ocorreu.
Nestes quase quatro anos de UNIFESP, acumulei tantas frustrações, decepções e engodos que acabei me tornando, academicamente, uma velha corcunda e reumática. Ao pisar na faculdade, automaticamente, perco a saúde e envelheço 40 anos. O sorriso seca e a graça se perde. Fico apática e caminho na inércia de meus passos. Simplesmente perdi a alegria do estar, permanecer e compartilhar desse mágico mundo universitário. Minha identidade de estudante, fica na carteira, mofada, esperando o horário do cinema. Não há animo para participar das oficinas do laboratório de sensibilidades, que em outras épocas tanto me encantava. Não há mais candura ao sentar nos bancos, de frente pro mar, e ler um texto inebriada de sol e maresia, nem orgulho ao percorrer os espaços e reconhecer-me como operária intelectual de uma universidade em construção. Morreu em mim a Cabela de tantas festas, das aulas de yoga para universitários, dos papos-cabeça de corredor, de escada, de elevador. Eu não vivo mais as possibilidades do meu campus, nem as potencialidades da minha irracionalidade psico-lógica. Cansei de procurar identificação e sintonia em rostos desfigurados pelo cansaço, mal-estar e sofrimento institucional.
Não há mais espaço em mim para aturar e acumular visões diárias de desumanidade, doença, desequilíbrio e hipocrisia. Meu mundo não cabe nestas salas úmidas e céticas, minhas palavras não servem na boca agnóstica e parasita da Universidade Federal de São Paulo.
Maaaaaaaaas,
hoje foi diferente! Em cada slide da aula, uma obra de Frida Kahlo. No intervalo, Yann Tiersen decorava o salão principal me lembrando as cenas de meu filme preferido. Era a universidade, tocando, tocando e tentando me chamar a atenção, através de minha arte favorita, para me dizer que há sincronicidade mesmo no caos. Que cursar psicologia na UNIFESP TAMBÉM era parte do plano existencial de evolução.
E veio o insight: a UNIFESP é meu grande teste de resistência. Depois de concluí-lo, estarei mais forte e preparada para levar minha filosofia à lugares de absoluta escuridão, inacessível à crença no espírito humano e na metafísica ontológica.
NAMASTÊ
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
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3 comentários:
Lindo poder enxergar-te pelas palavras da maneira que conta as histórias: demonstrando a tristeza amolecendo o corpo e arrastando caretas e aos poucos o despertar, o florescer... e BANG, ela causa um suspense de três metades de segundo, enfeita o sorriso e desmancha poesia no seu colo. Um chêro de lírio e a arruda pra ti!
Ai!!!!!!!! Me emociona e me tranquiliza pensar que o mundo pode contar com vc!!!
nossa q inspirador!
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